quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Por que é tão difícil olhar outro ser humano como igual?



Acabei de ver algumas notícias no jornal, na verdade, isso já dura alguns meses, pelo menos com tanta visibilidade, esse é um assunto recente. O crescente número de refugiados do norte da África e da Europa Oriental, que tenta se abrigar nos ricos países europeus, procurando um recomeço, uma vida distante dos abusos físicos e emocionais, presentes na realidade de seus países de origem. E do outro lado, um rico continente que se fecha, tentando ignorar um grito uníssono por socorro, vindo do mais profundo de tantas gargantas cansadas.
(Obra "Operários" - Tarsila do Amaral)
É realmente triste encarar notícias como essas. Pessoas que não se reconhecem como iguais. Nações e governos, que por razões políticas, econômicas, religiosas e outras tantas sem nenhuma explicação aceitável, mas certamente todas fúteis, tratam outros seres humanos com violência e descaso.
Com uma superioridade não merecida, eles decidem e escolhem, não percebem o quanto cada país desse, que sofre, com a pobreza, com as guerras, com conflitos intermináveis, com uma miséria tão grande que chega a doer a alma, que viu a maior parte de suas riquezas e sua identidade ser levada sem piedade por colonos bons em explorar, em sugar até causar danos quase irreversíveis.
O que eu ouvi de um crítico faz todo sentido, tal revolução é tão somente uma resposta, que mesmo demorada, começa a se desenhar em traços fortes, duros de enxergar, mas de uma necessidade e sinceridade inegáveis.
Ainda é muito difícil, para mim, entender como o homem pode maltratar tanto um igual. Como pode desconhecer um ser humano, para preservar uma cultura, uma etnia. Talvez por ser brasileira, por ser fruto de tanta miscigenação, por viver em um país onde o diferente está a cada passo, sempre perto, sempre em nós mesmos. Não temos medo de nos perder, porque somos essa confusão, esse todo, essa nação que abraça, sem mais. Talvez por isso, nós consigamos esse olhar tão humano; nós nos enxergamos como sendo um só. Nos adaptamos bem em qualquer região ou continente, e fazemos o melhor para que os que vem de fora também se sintam assim, acolhidos.
O país de renegados, o país da escória, do lixo da sociedade portuguesa, dos mulatos, dos sem raça. Talvez seja o único país preparado, não economicamente, não constitucionalmente, não politicamente, mas preparado humanamente para ajudar quem precisa e abrigar quem não se sente acolhido na própria casa.
Nunca olhei com tão bons olhos para o meu país, e nunca me senti tão receosa em relação a outros lugares do mundo. Que esse nosso olhar nunca se perca; e acredito que não se perderá, pelo contrário, estamos ensinando isso para o mundo inteiro, para todas as nações que nos observam de fora, de cima, e principalmente, para todos que são recebidos pelo Brasil. Propagamos o amor ao próximo. Propagamos o pensamento de que somos um só, humanos. E silenciosamente isso é ensinado e passará de geração em geração.
Infelizmente, o Brasil não é a rota mais fácil e nem pode acolher o mundo inteiro. E por essas pessoas, que se perdem em outros caminhos, que não possuem outras opções, que arriscam o pouco que lhes sobrou e se lançam com fé e esperança numa jornada complicada e com grandes chances de estar fadada ao fracasso, essas pessoas, merecem nossas orações, nossa atitude, nosso amor. Os católicos de todo o mundo, sobretudo os europeus, foram aconselhados pelo Papa a abrigar ao menos uma família de refugiados em casa. Muitas outras pessoas no continente, já tiveram iniciativa e estão agindo da melhor maneira que podem.

Nós somos muito pequenos diante dessa orquestra política que rege o mundo em alguns aspectos. No entanto, nós que cremos no Amor maior, no Amor misericordioso e sem limites, nos tornamos gigantes quando nos deixamos levar por Deus, quando entregamos a Ele tudo que nos perturba, quando reconhecemos que só há sentido verdadeiro em viver quando somos regidos pelo nosso Mestre, Senhor de nossas vidas.
Muitas vezes eu esqueço, mas quando me aflijo com coisas assim e me disponho a pensar, só consigo chegar a Ele, o porto, a fortaleza. E mesmo sendo pecadora até a unha do mindinho, nesses momentos, sinto que meu coração bate, que não é de pedra e que dentro dele há algo, uma chama que não apaga nunca. Nós sabemos o que ela significa, só insistimos em esquecer quase sempre.
Certamente essa questão não se resolverá agora, nem daqui a um mês, ou antes do fim desse ano, muito menos no próximo. Parece ser uma característica humana que não pode ser negada: ser relutante diante do que está errado e diante dos seus olhos, insistimos em não ver e não pensar, porém aquilo que fugimos, continua sempre lá, até que ele cede, e por si só se desfaz da invisibilidade forçada, e reage! E sopra em nós com toda força a dor e a inconformidade de ter sido ignorado. É isso que acontece agora, é isso que já aconteceu tantas e tantas vezes, por motivos diversos, em macro e microprocessos.
Um número incontável de pessoas, nesses últimos meses, tem sido perseguida, enganada, maltratada. A palavra perseguição ficou se repetindo em mim, e me lembrou de quando Jesus apresentou ao seus discípulos a justiça do Senhor, que muitas vezes é incompatível com a terrena, mas que prevalece sempre, por toda a eternidade. E Mateus registrou-as, as chamadas bem-aventuranças; e precisamente quando diz: "Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu.(5,10)", passam-se muitas coisas pela minha cabeça, penso em todos os que perderam suas vidas nessa jornada, todos que sofrem neste exato momento, todos que endurecem seu coração fazendo seus irmãos como inimigos, penso em todas as misérias que a condição humana cria e suporta. E desejo de todo o coração, que essas pessoas, que precisam de esperança, guardem a certeza dessa justiça, que prevalece e que é misericordiosa.


"Qual a diferença? Nosso olhar não deve se focar no que nos diferencia
e sim no que nos assemelha: o Amor que Deus tem por todos nós!"

Que o nosso coração transborde do Amor puro, verdadeiro e misericordioso.
Busquemos a Santidade!

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