Transcorria um rigoroso inverno na vila de Banneux,
em 1933, seis anos antes da II Guerra Mundial. Domingo, 15 de janeiro, era mais
um dia penoso na árdua vida da família de Julião Beco. Este estava
subempregado, sua esposa padecia problemas de saúde, a moradia familiar era
precária e pobre, além de ser numerosa a prole: oito filhos pequenos. Mas o
pior é que a pobreza não era apenas material, mas também espiritual. O pai não
praticava a Religião desde a época de sua Primeira Comunhão. A mãe, como frouxa
formadora dos filhos, tinha-lhes ensinado sem fervor apenas algumas orações. O
casal não se preocupava com o bom aproveitamento das crianças nas aulas de
catecismo da paróquia.
Apesar dessas circunstâncias adversas,
a filha primogênita, Mariette, com doze anos então, era muito dedicada. Já
sabia cuidar dos afazeres domésticos quando a mãe adoecia. Tinha o senso de uma
zelosa dona-de-casa: apreciava ordem, limpeza, economia. Na escola, apesar das
numerosas, mas involuntárias faltas, era aluna diligente. Seus cadernos
atestavam bem sua aplicação. De boa índole, esforçava-se em animar a todos.
Sabia degustar as alegrias simples e puras da vida que Deus concede. E dando
este bom exemplo, edificava os outros.
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Nossa Senhora dos Pobres, rogai por nós! |
Naquele domingo, aproximadamente
às 19 horas, Mariette olhava pela janela para ver se já estava de volta Julião,
o irmão que lhe seguia em idade. Inesperadamente, no pobre jardinzinho, já bem
escuro, começou ela a notar a presença de uma bela Dama luminosa.
De início, Mariette duvidou. Não seria
alguma ilusão causada pelos reflexos titubeantes de uma lâmpada de óleo que
estava ali perto, dentro da casa? Afastou-a e certificou-se de que se tratava,
na realidade, de uma Senhora que, sorridente, e de modo bondoso, dirigia-se a
ela, aparentando desejar dizer-lhe algo com gestos afáveis.
A menina exclamou então: “Mamãe! Mamãe!
Venha! Parece que Nossa Senhora está no jardim!” A mãe, de outro cômodo da
casa, mandou que a filha deixasse de bobagens e fosse dormir.
A aparição, entretanto, continuava. A
Senhora era de média estatura, com vestido e véu brancos, sendo que a alvura da
veste era mais intensa. Esta fechava-se sob o queixo da Senhora, era lisa até a
cintura e depois alargava-se até os pés, formando pregas harmoniosas. As pontas
do largo cinto azul caíam-lhe diante do vestido. O véu cobria-lhe ombros e
braços. As mãos estavam juntas, mas abaixadas. A Dama sorria com o olhar e os
lábios, estando ligeiramente inclinada para seu lado esquerdo. Essa postura,
característica da Virgem de Banneux, permitia que se visse o pé direito de
Nossa Senhora, ornado com uma rosa de ouro. Apoiava-se ele sobre uma nuvem
prateada, a uns três palmos do chão. Uma luz brilhante, opalescente, circundava
a Virgem. E em tomo de sua cabeça notava-se uma auréola de raios de luz
divergentes.
Mariette, que de início tivera medo,
tranqüilizou-se, tomou o terço e rezou seis dezenas. A Dama, com um gesto,
chamou-a ao jardim. Mas a mãe da menina trancou a porta da casa à chave e
desceu as persianas da janela. Antes de se retirar do recinto, Mariette rezou
ainda uns dez minutos, espiando pela janela, levantando um pouco a persiana.
Nessa ocasião, a Senhora já havia desaparecido.
Além dessa, tiveram lugar mais sete aparições,
todas um tanto misteriosas. Ao longo delas, Nossa Senhora pronunciou apenas
poucas frases, além de comunicar um segredo particular a Mariette.
Na terceira aparição, ao lhe ser perguntado
quem era, respondeu: “Eu sou a Virgem dos Pobres”. E afirmou’ que uma fonte
natural de água, que havia ali junto, serviria para o bem de todas as nações,
como também aos doentes.
Nossa Senhora pediu que se construísse uma capela no
local. Pelos frutos – isto é, pelos favores espargidos pela Mãe de Deus –
pode-se conhecer a árvore: foram tantas as graças concedidas, que em pouco
tempo foi necessário transformar a capela em santuário, devido ao afluxo de
peregrinos e à falta de espaço para afixar ex-votos de agradecimento.